ser mulher

domingo, 24 de junho de 2012

“A beleza exige outras janelas...”

Graduado em Tecnologia em Artes Plásticas (2010), também é técnico em Design Ambiental: Decoração, Mobiliário e Paisagismo (2000), pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Fundou o Coletivo Ludus. O coletivo é um grupo formado por quatro artistas e pesquisadores da imagem na Arte Contemporânea. Atualmente, é professor de meios técnicos para a Pintura e o Desenho de observação.

Alguns trabalhos:
- Mostra coletiva Entre Mentes (2010), no Museu de Artes da Universidade Federal do Ceará (MAUC)
- XIV Unifor Plástica (2007)
Confira a produção de Galber em: 
http://galbergalber.blogspot.com.br

Vestida - Esteticamente, como poderíamos definir o belo?
Galber Rocha - A resposta para essa pergunta requer muito cuidado. Os padrões estéticos construídos pela cultura ocidental são amplamente discutidos pela Arte contemporânea, que aborda outros canais para pensar o belo na sociedade, como imagens do grotesco, do corpo mutilado, do lixo, entre outros. Aprecio pensar o belo, como algo que ocorre em um instante no tempo físico, que me leva a “fluir” intensamente naquele momento, através de uma música, de uma imagem, de um livro, de uma performance ou por meio de um beijo afetuosamente fingido. Nisso o belo também pode ser um disfarce para a feiúra.

Vestida - Ao longo da história da arte, os padrões referentes a concepção de beleza feminina foram se remodelando. Como você vê esse processo?
Galber - A  historia da Arte presente nos livros, sempre é a história da vida da sociedade ocidental, nisso é um fragmento incompleto das transformações da concepção da beleza feminina. Por exemplo, o modo de entender os padrões da beleza das mulheres africanas do Vale do Omo (Etiópia), não está presente na discussão ocidental. A concepção de beleza feminina ocidental atual é perigosamente manipulada por uma cultura industrializada, que visa ampliar o desejo de consumo de produtos, inserindo definições superficiais da beleza e de feiúra, nisso a beleza feminina não é mais uma conquista de valores éticos e estéticos, a beleza é diretamente comprada em lojas de produtos cosméticos ou clínicas especializadas em intervenções no copo. A meu ver, a beleza feminina está banalizada, reduzida a um corpo plastificado por botox, silicone e outros produtos artificiais. A Arte contemporânea reage a essa situação, propondo novos olhares, outras janelas para pensar as questões da beleza.

Vestida - A mulher sempre esteve em pinturas e esculturas, como musa ou inspiração, já que os sujeitos da arte eram os homens, na maioria. Como a mulher era/é vista nas artes?
Galber - A partir do fim da segunda guerra mundial, e com a revolução industrial, a mulher ocupa com mais força alguns dos espaços dominados pelo homem, e enfrenta definitivamente as ideologias da cultura machista dominante. Na Arte, a mulher deixa de ser objeto de representação, para tornar-se agente criador de novas formas de representar o mundo.

Vestida - Temos padrões estéticos femininos hegemônicos – loira, cabelo liso, magra, etc – que não respeitam a diversidade/as diferenças de ser mulher. O que você acha desses padrões?
Galber - Os padrões que você cita, são castradores. Toda mulher tem o direito de ser única, exclusiva, e linda na sua condição de existir. Esse padrão industrializa a imagem do que é comercialmente aceito, e aquelas que não possuem as características estabelecidas no padrão, são marginalizadas, excluídas como se fossem mulheres de “segunda classe”. A globalização massifica as ideologias de beleza, constroem um padrão impossível de ser atingido, escolhem algumas mulheres para representar esse padrão estético, e criam uma pressão social intensa para que as demais mulheres,  sigam o modelo das “deusas”. Isso gera uma pressão grotesca no cotidiano das pessoas.

Vestida - “A beleza exige outras janelas”, você diz, e sempre coloca a frase com fotos de mulheres. O que significa?
Galber - “A beleza exige outras janelas”, é um modo de provocar minha curiosidade, de descobrir novas formas de olhar o mundo, por meio de outros olhares, de novas lentes. Nem sempre escolho imagens de mulheres, por vezes mostro imagens de cavernas, furacões, abismos, o fundo do mar, ou então, coisas simples do cotidiano, como uma pessoa no Marrocos sentada na calçada da própria casa destruída por um incêndio. Penso que, é um privilégio estudar a imagem. Geralmente escolho imagens de mulheres negras. Em minha pesquisa me sinto mais atraído por elas, tenho “tesão” pela grande diversidade de possibilidades de ver o mundo, as pessoas e as mulheres negras.

Vestida - O que é beleza feminina para você?
Galber - Minha maneira de ver a beleza da mulher está em sua exclusividade absoluta, quanto mais ela é diferente do padrão, quanto mais está fora do padrão, quanto mais “esquisitinha”  melhor, penso que “a beleza exige outras janelas”.

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